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Reflexões sobre a identidade cultural, o peso de suas representações, as relações de poder e o ensino de línguas de herança

28/01/2016 Fernanda Krüger POLH/PLH

Uma identidade cultural não se desenvolve e se mantém apenas com base em aspectos peculiares a um grupo e no reforço de suas definições. Ela também é moldada por suas diferenças em relação a outras identidades culturais. Para isso, pressupõe-se a existência de um diversificado mundo cultural e social o qual, por si só, cria conexões diretas com as relações de poder.

Um ambiente escolar internacional serve como um exemplo de campo para manifestações de alguns tipos dessas relações de poder. 

Estes modelos de escola têm como premissa o multiculturalismo, valorizam as diversidades culturais e pregam a tolerância às diferenças.

Contudo, têm o inglês como principal (ou até mesmo única) língua de instrução e sua grade curricular, ainda que focada numa visão global, enfatiza e promove mais intensamente os traços da cultura britânica e americana. Fato que confere a essas duas culturas o sutil poder de serem referência na educação e formação de indivíduos e identidades.

Em um mundo cada vez mais globalizado, as pessoas têm se mudado muito mais frequentemente de um lugar para o outro. 

A mistura entre diferentes nacionalidades e culturas, causada por esses deslocamentos, desencadeia um processo natural de formação de novos tipos de identidades, as quais manterão características legítimas, mas deixarão de ser únicas. 

Isso acontece porque, no processo de integração em um novo país, a preservação da cultura individual (identidade) e a adaptação à realidade atual (diferenças) andam de mãos dadas. Pode surgir daí, o indivíduo globalizado, caracterizado pela sua pluralidade.

A fim de que essas relações sociais e culturais, inerentes à mobilidade do mundo contemporâneo, não privilegiem e fortaleçam apenas determinados grupos, é essencial a preservação e transmissão da cultura de base às futuras gerações.

A família, a comunidade e a escola situadas em um meio estrangeiro têm um papel fundamental neste contexto. Cada um desses grupos tem em mãos o poder de manter viva a originalidade de uma cultura, mesmo estando os indivíduos inseridos em um enriquecedor cenário de diferenças.

Retomando as escolas internacionais e a hierarquização do poder, vale salientar a relevância do ensino de Línguas de Herança como ferramenta de promoção de diferentes parâmetros culturais (representação de uma cultura original no exterior).

Diante disso, ao se pensar no ensino de Línguas de Herança, é imprescindível a oferta de um material e práticas pedagógicas fiéis a suas culturas de origem - e não somente ao idioma em si.

No caso da língua portuguesa, por exemplo, é também preciso tratá-la como um todo, ou seja, como língua do Brasil, de Portugal e de outros países onde a língua é falada.

Assim, o ensino de um idioma ganha poder. Poder de desmascarar rótulos culturais e permitir que novas identidades tomem, por base, a própria identidade e as diferenças da cultura local.

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Fernanda Krüger

Idealizadora e fundadora do br+ Foco no lado positivo do Brasil!© e da iniciativa pioneira BRmais e o Português como Língua de Herança no Ensino Globalizado©. É também cofundadora do programa de leitura em língua portuguesa Encontros de Leitura/ Portugiesischer Vorlesetreff, na Biblioteca Infantojuvenil de Frankfurt e criadora do selo editorial Papagaios pelo Mundo®. Especialista em LIJ pela UCAM.