Escultura "Kommunikationsraum" (2010), Alemanha. Foto: Fernanda Krüger.

A escultura desta foto está em um dos parques no centro da cidade onde moro. O nome dela é "Kommunikationsraum" (Sala da Comunicação). 

Hoje, 3 de outubro, feriado nacional, é comemorado o  "Tag der Deutschen Einheit" (Dia da Reunificação Alemã). Em 2020, ela completa 30 anos, mas é este banco amarelo atravessado por uma árvore – uma escultura ao ar livre, que une enquanto divide – o centro da minha atenção.

Nas semanas antecedentes, os noticíarios não deram trégua a programações e publicações relacionadas ao assunto. Análises históricas, depoimentos de quem viveu o antes e o depois e debates sobre a questão na atualidade. 

Uma sociedade que viveu e adotou sistematicamente a violação dos direitos humanos – como a menos noticiada  "Zwangsadoption" (adoção forçada) –, em nome de uma ideologia, conseguiu ser novamente uma unidade, respeitando e valorizando as individualidades. Contudo, nos dias de hoje, ainda lida com a presença de radicais à frente de algumas repartições públicas, acompanha o fortalecimento de partidos de extrema direita e já conta com uma geração que desconhece os dissabores de se viver em um país dividido. A democracia, conquistada a duras penas, é frágil e vulnerável e, por isso, deve ser compreendida, cultivada e celebrada, sim! Um paralelo com o meu país de origem, dentro de suas próprias complexidades, é invitável.

"Deutschland feiert das 'Wir'" (A Alemanha comemora o "Nós"). Este é um dos lemas que ecoam nas comemorações de hoje, mas é o banco amarelo atravessado por uma árvore que está cravado no meu pensamento. Como "nós" podemos comunicar e salvaguardar nossas especificidades dignamente? 

F. Nietzsche, em seu livro  "A Vontade de Poder", disse que  "a arte existe para não morrermos de realidade". Visualizo o banco amarelo atravessado por uma árvore e vou imaginando respostas. 

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* Crianças retiradas de seus pais por causa de atitudes consideradas ofensas políticas (como a tentativa de fuga pela fronteira) e obrigatoriamente adotadas e educadas por famílias com valores congruentes aos da ideologia socialista.